segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Ela...


       Agora ela está parada, estagnada, estática, tão imóvel quanto o mais puro diamante, em toda sua dureza e resistência, como o mais antigo e extenso monte...
       Vê-se diante do findar do outono... Tudo o que ela tem agora, assim como as folhas, estão se desprendendo e sendo levadas pelo vento. Não há o que se possa fazer, o outono chega ao fim, e todas as folhas se vão, tudo que ela tem se vai...
       Está como diante de um penhasco, bem à beira, tendo a oportunidade de voltar para trás e permanecer com toda a estabilidade, segurança e felicidade que possui, ou num impulso único, se lançar à queda, deixar tudo ali em cima, e se entregar à desconhecida e, um tanto assustadora, oportunidade...
       De tudo que um dia ela pode desejar, isso sem dúvidas foi o que a tomou mais tempo, o que mais a levou ao crescimento, em todos os âmbitos, em todas as áreas, e o que mais a cobrou decisões, não se importando com a estrutura que ela possuía, ou com o que teria de abrir mão...
       O momento que ela deixaria de viver se fosse possível, chegou, e como um golpe muito bem aplicado, em uma luta entre lâminas cortantes de espadas, o qual encerra a batalha num milésimo de segundo que mal se pode perceber, assim à toma este acontecimento...
       É outra etapa, que talvez ela nem viva, por preferir não saltar... Ou talvez ela viva, passe, e ao chegar ao fim, finalmente diga: Valeu a pena!
       É uma oportunidade ímpar, concedida por Deus, em sua infinita misericórdia...
...
       Agora ela está parada, o silêncio sepulcral que a envolve é intenso, as batidas descompassadas e aceleradas de seu coração quebram a quietude que domina. A respiração é ofegante e trabalhosa, como se fosse necessário à ela, rasgar as paredes do sistema respiratório, a cada inspiração, para que lhe pudesse entrar um pouco de oxigênio. Não há espaço para pensamentos, o sentimento, indecifrável e inexplicável com nossas vãs palavras, ocupa todo o seu ser.
       A maior porta de sua vida, acabara de ser aberta, e as outras portas menores, foram definitivamente fechadas, exceto a de trás, que ainda à convida a voltar, e permanecer da mesma maneira. Decisão morbidamente difícil.
       A madrugada, cruel inimiga, a deixa sozinha, sem a possibilidade de recorrer à quem ela ama, sem o conforto de um abraço humano, e sem a chance de expor o sentimento que esmiúça seu peito à alguém que faça parte de sua vida. Ela converte em lágrimas toda a dor eufórica, de ter nas mãos o desejo realizado, com um grande preço a pagar...
       Tente imaginar-se no lugar dela, agora... Segure com força o que mais lhe agrada e mais lhe trás felicidade, abrace isso, sinta isso, ainda que seja algo abstrato e impalpável, tenha-o em suas mãos por um instante, use seu coração para torná-lo passível de ser tocado e sentido intensamente... Agora, ainda com isso em mente, imagine seu maior sonho, algo que além de necessário, seja uma grande vontade, um desejo imenso de seu ser, algo pelo qual esperou anos a fio, e lutou muito para conseguir... Feito? Imagine-se agora a ter as duas coisas nas mãos, e ter que escolher entre elas... Difícil, demais.
       Entre soluços e lágrimas, e a alegria imensa da conquista, ela deixa o jardim escuro e frio, e já um pouco molhado pelo orvalho, e se dirige ao seu leito, a esperança é a de sempre... Que ao despertar, tudo seja melhor. É fato comprovado, que quando acordamos, tudo sempre parece menor, menos dolorido, menos difícil, a dor do momento é sempre maior.
...
       Ela sabe que este é apenas o fim do outono, e que logo logo virá o inverno, a primavera, o verão, e o ciclo natural prosseguirá como sempre... Ela sabe que o valor da conquista supera pequenas dificuldades... Ela tem consciência de tudo que vai perder, e de tudo que vai ganhar com isso... Mas o que mais importa, é que ela sabe que Deus estará com ela, onde quer que ela coloque a planta dos pés, e que não importa o lugar em que ela resida, ou o tipo de rotina que terá que aderir, o Espírito Santo sempre a acompanhará, e no fundo, a comunhão e a presença Dele, é a única coisa que importa.
       É com essa certeza em mente, que vejo-a deixando o jardim, e subindo os degraus da varanda... Ela não olhou pra trás, mas antes de entrar, levantou seus olhos em direção à Lua, que estava ao lado direito, e sorriu, enquanto a última lágrima rolava pelas maçãs de seu rosto. Ela voltou os olhos para a frente, abriu a porta, e entrou. A partir dali, começava um novo tempo em sua vida...

Susan Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário