Era sábado. O
dia amanhecera como todos os outros, e a atividade no pequeno povoado
era a mesma... Seguira sua rotina, era dia de cuidar de tudo que
ficara deixado de lado durante a semana, e como sempre, após
declinar-se em agradecimento à Deus por mais um dia, levantou a
persiana, e escancarou a janela, o ar gelado que entrara lhe chamou a
atenção, fazendo-a voltar os olhos aos montes distantes, que
faziam-se pintura por entre as molduras que formavam a janela, eles
estavam cobertos por uma névoa densa, o que era muito raro...
Ainda de frente
à janela, do 3º andar, podia ver à esquerda o cais, onde ondas
calmas se quebravam delicadamente junto às pedras costeiras, haviam
poucos barcos ancorados, e podia notar, entre a névoa que pairava
sobre o mar, um navio de pequeno porte, quase dobrando a linha do
horizonte... Inclinando o olhar à direita, podia observar a praça,
única no povoado, onde algumas crianças brincavam timidamente por
entre os arbustos molhados pelo orvalho, era um dia incomum, um dia
nebuloso, frio e escuro, quebrando as regras do clima quente e
ensolarado daquele lugar...
As ruas, todas
de pedras sobrepostas e irregulares, estavam bastante molhadas,
chovera durante toda a noite... As árvores, bastante densas, ainda
derrubavam grandes gotas de água ao serem movidos pelo vento,
ou terem suas folhas colididas por pássaros a brincar por entre os
galhos... O dia sorria! Embora escurecido e úmido, estava calmo e
belo.
Oportuno seria,
se o narrar da história não envolvesse os sentimentos internos, mas
é impossível contar uma perspectiva, sem expor o que há dentro do
coração. Os olhos sempre veem a mesma coisa, mas o que cada olhar
enxerga, depende do mundo que há por trás dele, bem ali na alma de
quem com eles observa...
A saudade já
era grande, embora os dias de separação não somassem um número
muito elevado. Os pensamentos estavam soltos, não faziam muito
sentido... Era um misto de foco nos afazeres domésticos, uma parcela
nas matérias a serem estudadas, e uma porção considerável, que
permanecia rebelde, ligada no que ficou.
O frio contido
naquela manhã, trazia lembranças doces, do lugar tão amado, mas
essas lembranças, quando unidas aos fatos, tornavam-se
desagradáveis... Já não era mais possível dizer o que se passava
dentro da mente. Parte dela, negava desesperadamente que algo estava
ruim, e como numa tentativa de amenizar o insuportável, arrastava
bruscamente o foco ao racional, ao real, ao que havia ali agora,
tentando ocultar o que houvera um dia. Se opondo a esta parte, havia
o outro lado dela, que lutava por uma válvula de escape, que não
fosse o esquecimento, brigava por um pouco de sentimentalismo, por um
pouco do que faltava naquele lugar...
Ela sabia por a
razão na frente dos demais lados, mas ali, tanta racionalidade já
começava a torturar. Brilhante a mente que citou um dia, as
seguintes palavras:
“Há certas horas, quando sentimos que estamos pra chorar,
que desejamos uma presença amiga, a nos ouvir paciente,
a brincar com a gente, a nos fazer sorrir...
Alguém que ria de nossas piadas sem graça...
Que ache nossas tristezas as maiores do mundo...
Que nos teça elogios sem fim...
Que nos mande calar a boca ou nos evite um gesto impensado...
Alguém que nos possa dizer:
Acho que você está errado, mas estou do seu lado...
Ou alguém que apenas diga:
Estou Aqui!”
Alguém que nos possa dizer:
Acho que você está errado, mas estou do seu lado...
Ou alguém que apenas diga:
Estou Aqui!”
De fato, ali, era
mesmo o que faltava... Naquele momento, tal como o dia, dentro dela,
o sol não nascera... Tudo estava nublado, úmido, e frio...
Susan
Oliveira