segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Universo...

       Você seria capaz de descrever o som de um floco de neve a cair? Vamos. Pense, tente imaginar... Se pudesse ouvi-lo, como seria? Difícil dizer? Pois bem, esse mesmo som, tem os pensamentos que habitam uma mente...
       Deixe-me tentar outra coisa... Ah! Claro... Tente explicar o aroma de uma gota de água, em sua mais pura fórmula... Qual é o cheiro? Ainda está complicado? Pois é... Essa é a fragrância que as emoções possuem...
       Agora, esforce-se um pouco, explique a consistência do ar que respiramos, não por fórmulas, nem por leis Físicas, mas por sua própria experiência com ele, imagine-se apalpando-o... Que forma teria? Qual seria sua textura? Não tem como dizer, não é mesmo? Sabe?... Essa é a textura dos instintos no campo emocional...
       Ninguém, em todo o mundo, seria capaz de traduzir em palavras, o que carregamos dentro de nós...
       Por trás de cada olhar, existe uma história que ninguém nunca contou inteiramente, existe um universo de sensações e sentimentos, que só conhece, quem os possui dentro de si.
       Por trás de cada sorriso, existe uma vida, tão complexa, que ninguém seria suficientemente inteligente, para transcrever.
       Por trás de cada semblante, existe um mundo. Interno, particular, e inacessível...

       Hoje brindo à nós, seres humanos, que conseguimos carregar dentro de nós, ali, onde ninguém pode ver, um universo inteiro... Desconhecido, e incrível.

Susan Oliveira

sábado, 14 de janeiro de 2012

Café


       Era madrugada de sábado, tão tarde, ou tão cedo, que já não podia-se ouvir o cricrilar dos nossos noturnos companheiros de campo...
       Como de costume, eu ainda não havia me deitado, nem sequer estava no meu aposento. A cena que eu tinha diante dos meus olhos era a sala de TV. Ao ruído do filme que passava na grande tela, posicionada de forma confortável à quem a assiste, eu podia contemplar o vazio daquele cômodo, não tinha ninguém ali, nada estava fora do lugar, e nada do que eu falasse ou fizesse ali, teria resposta...
       Os pensamentos pairavam em minha mente, e ali se conturbavam como as folhas outonais nas ruas, em dias de forte vento. O que passava nela? Não sei dizer... Talvez nunca conseguirei explicar tais pensamentos, sobremodo intensos.
       O relógio não fazia nem sequer uma pausa. Cumpria seu dever de ditar o tempo, com afinco, como o faz todos os dias... Também, não importaria se ele parasse, se ele fizesse uma breve pausa, me permitindo assim, recuperar o fôlego que fora tirado no instante em que me pus a pensar, pois o amanhecer, rs, ele já estava à caminho. Já podia ouvir o canto dos pássaros, anunciando que a vida seguia, e mais um capítulo se abria...
       Não pude nesse meio tempo, perceber o revesamento da Lua e do Sol. Tanto me consumiam os pensamentos, que não havia sobrado nem uma gota de atenção, para que a pudesse inclinar ao amanhecer.
       Foi abrupta a maneira com que despertei do que parecia ser um sono profundo. Algo no ambiente havia mudado, do cheiro fabuloso e inexplicável da madrugada, passei sentir um aroma convidativo e irresistível... Era o café, que ali na cafeteira, previamente programada para fazer-lo naquela determinada hora, se exalava sem timidez, por toda a casa.
       No instante em que aquele cheiro familiar e aconchegante entrou em minhas narinas, eu tive a certeza... Aquela certeza, de que aquilo que mais me atormentava, havia naquele momento, sido respondido, com tamanha clareza, que me fazia inerte.
       Daquele momento em diante, sem dúvidas, meu olhar sobre tudo e todos, estava definitivamente alterado. Na companhia daquele agradável aroma, eu tinha encontrado uma resposta, uma solução.
       O café, naquele momento, me serviu como fonte de ideias. Naquele instante, o seu aroma foi como o estouro de uma brilhante solução dada por um amigo, quando mais se precisa. Em alguns poucos segundos, eu entendi o que não tinha conseguido perceber em mais de 10 anos...
       Nem tudo em nossa vida chega a ser concluído ou compreendido totalmente, mas algumas coisas - e ouso dizer que, principalmente aquelas que estão debaixo do nosso nariz -, são as que mais demoramos para perceber. Talvez isso seja bom... Talvez seja uma peça bem pregada do acaso, ou uma interrogação lançada por anjos, para que deixemos o conforto de nossos mundos particulares, e abramos os olhos para o que está mais adiante...
       Mas, independente do motivo, sempre será bom se deparar com coisas que nos despertem o óbvio, que existe em tudo, mas nem sempre estamos prontos para enxergá-lo. Mesmo que essa 'coisa despertadora', seja o aroma de um bom café pela manhã...

Susan Oliveira