sábado, 14 de abril de 2012

Deslocada...

       Aqui estou eu novamente...
       Agora observo o vento que balança a palmeira, localizada bem em frente à janela, que todos os dias, faz meus pensamentos viajarem alguns quilômetros, me levando pra perto do lugar que eu queria estar...
       O som que ouço é desagradável aos ouvidos, o cheiro que sinto agora ao inspirar, não contenta meu ser, nem a brisa que entra as vezes, de leve, refrescando o calor de um clima tão oposto, é satisfatória...
       Enquanto meu semblante permanece estático, a olhar para fora, dentro de mim lágrimas rolam, banham o coração, que apertadinho pede socorro... Algo não está bem. É a saudade, que traz uma vontade insaciável de ir embora e deixar tudo de lado...
       Olho ao redor, por um estante me vejo descendo a escada e indo em direção a sala de TV, onde está alguém muito amado... Ao perceber que não há a escada para descer, e que não há ninguém amado por perto, falta-me o ar. Em momentos me vejo a bater na porta do quarto ao lado, só pra ver o semblante de alguém também amado... Noto logo que isso também não é possível, pois não me encontro mais no lugar de outrora, e aqui, não há nada, nem ninguém...
       O celular e a Internet são válvulas de escape quase perfeitas, fazem rolar as lágrimas contidas e trazem certa proximidade do pedaço de mim que ficou lá, tão longe...
       Repentinamente algo se move aqui dentro, no íntimo da alma, e grita pelo retorno, por um pouco de espaço, por privacidade, por sensações agradáveis, por momentos tranquilos, pelo colo de alguém querido... O que se passa nesse íntimo confuso e deslocado, não posso explicar... É como ser por uma vida, uma peça do quebra cabeça mais interessante e belo já visto, e em um dado momento, ser retirada dali, e posta em um lugar absolutamente oposto. Falta tudo, desde a base, até o teto...
       Vejo a todo tempo, provas de que o cuidado de Deus não se modificou, não cessou. Sei que em meio a todo o caos instalado na falta de estabilidade e segurança, Deus ainda permanece com sua mão misericordiosa e de amor inigualável ao meu redor.
       Todos os minutos eu conto o tempo, regressivamente, para voltar lá e me encaixar de novo, no meu quebra cabeça... A cada instante eu almejo estar lá, e sonho com o momento de entrar no ônibus novamente e dizer: Estou indo! Ah... É a melhor sensação, é um alívio sem tamanho, sem medida...
       Olhar para as nuvens, com a lua brilhando entre elas, traz a sensação de que ao voltar meus olhos para a terra, estarei de volta ao meu lugarzinho...
Confesso que descobrir que isso não real, faz doer o coração, mas a ilusão, ainda que breve, de estar lá, me faz buscar todos os dias essa mesma sensação...
       Hoje penso que meus limites são um pouco maiores do que imaginei, e que posso suportar um pouquinho a mais do que pensava conseguir, ainda respiro, por mais difícil que seja, e ainda estou aqui, brigando e lutando por um alvo maior que, confesso, parece ser inatingível, mas me dá um pouco de força para permanecer.
       Volto-me agora à minha momentânea nova realidade. Não. Aqui não é meu lar, tudo isso é apenas um pequeno desvio de percurso, por consequência de uma estrada bloqueada na pista, que assim que possível, será retomada, e voltarei ao meu quebra cabeça, tornando completo o sentido de tudo ao meu redor...

Susan Oliveira

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sentimento em tinta e papel...

       Hoje eu parei pra escrever, dentre todos os sentimentos por mim experimentados, o que mais se destaca, o que mais se recusa ir, é a sensação inexplanável...
       Olho pelas janelas, ao logo dos dias, a cada lance de olhar posso contemplar uma paisagem mais linda. Vejo-me de fato cercada por belezas imensuráveis... Meus olhos se agradam, e quase que instantaneamente o cérebro diz - Quero voltar pra casa, aqui não é meu lar... Instante no qual o coração se esmiúça, vem as lembranças, da gota da chuva que caía na janela, à companhia inenarrável dos amigos que ficaram.
       É estranho ter o doce e o amargo, ao mesmo tempo, sob o julgamento do paladar. Aos poucos, neste misto dolorido e eufórico de aflições e emoções, eu me encontro... Descubro com o passar das horas que a 'frieza' que eu inocentemente imaginava ter, na verdade não existe. A cada instante, em meio à lágrimas que rolam sem nenhum pudor, eu aprendo que em meu peito há um coração sensível, vulnerável...
       Arroubos emocionais são comuns agora, pego-me vertendo lágrimas incontáveis aos mais sutis sinais de pressão ou cobrança, a saudade é cruel, e as lembranças se fazem, por vezes, torturas insuportáveis.
       Em dado momento tudo se torna insuportável. Ver os carros passando, os  ônibus levando e deixando pessoas, tudo espreme o coração, que agora sabe que não vai voltar pra casa no final de um dia exaustivo, em todos os sentidos. A mente se exausta pelo esforço, o corpo, ainda em adaptação à nova rotina, grita, e o sentimental, já frágil como um lenço de papel molhado, geme em silêncio, no oculto, apertando a garganta e impulsionando as lágrimas, que parecem não obedecer ao meu comando: Pare! Algo dentro de mim pede copiosamente para voltar, para deixar tudo. Há um conflito constante dentro de mim, no qual a mente faz um esforço incalculável para amenizar o sentimento sufocante, e o consciente racional tenta, arduamente, fazer a expressão facial ser a melhor possível...
       Agora eu fiz uma breve pausa, para por no papel esta pequena porcentagem, talvez esse um porcento que deixo em tinta e papel, alivie o peso que esta nova realidade me traz.
       Sei que bons momentos virão por aí, e reconheço os que já houveram, eu agora, anseio demasiada e desesperadamente pelo dia que tudo isso se tornará normal, comum.
       Família, amigos, ministério, hoje sei que minha vida se fundava nisso, e agora, os quilômetros que me separam de tudo, são o pior obstáculo que preciso enfrentar, todos os dias ao acordar...

       Saudade... Hoje eu digo que ela é o pior sentimento, e o pior desafio que alguém pode ter. É como se me tirassem o ar, e me forçassem a viver sem ele...

Susan Oliveira