Corri,
em meio aos sons incomuns, em direção aos que fazem minha vida ter
sentido, abracei-os... Lágrimas rolaram, mas eram de felicidade, por
estar de volta. Os planos se recomeçaram de onde haviam parado...
Novos eventos sendo combinados por todos, horas marcadas, lugares
especificados... Sim, eu estava de volta!!
Nada
podia afetar o estado de felicidade total que me envolvia, qualquer
acontecimento seria incapaz de tirar de mim tamanha alegria e
sensação de sonho realizado.
Mas,
num instante eu parei. Notei que algo era diferente, - Eu não sentia
meus pés no chão - algo ali tirava o ar natural da vida. A sensação
era boa, mas para que pudesse ser concreto, eu precisava da gravidade
me mantendo junto ao chão, sentindo meu próprio peso sobre mim, e
não, isso não acontecia...
Voltei
meu olhos para mais adiante, e notei que a vista era ofuscada, por algo
que parecia ser uma névoa, não podia correr o olhar para nada que
estivesse muito distante, a menos que eu me aproximasse, mas não era
porque a distância me impedia de ver, e sim porque a paisagem só se
formava quando eu ia em direção à ela... Neste momento me
estagnei. Por um instante eu permaneci inerte, a absorver os fatos
que me cercavam. Foi quando eu comecei a ouvir um som, muito
agradável, como se tocado em um local de grande distância de onde
me encontrava...
A
melodia me era familiar, e linda, linda de tirar o fôlego... As
notas tão docemente juntadas, formando tal harmonia, aos meus
ouvidos esplêndida, me faziam flutuar em lembranças e sensações
indescritíveis... Eu podia ver, ouvir, tocar, e sentir o que eu
quisesse, era capaz de alcançar qualquer desejo mais distante da
realidade, sem o menor esforço. Então abri os olhos...
Como
quem recebe um choque de realidade, eu pude contemplar aquele palco
de mármore, todo branco, com sua escadaria que levava à base de
onde começavam os assentos, estufados, aveludados, em tom de vinho
tinto, com detalhes em metal dourado, semelhante ao ouro amarelo...
No centro daquele palco, alguém de smoking, com mãos talentosas e
aparência agradável, tocava aquele piano de cauda, que
reluzia... Era possível ver as notas saindo dali, como se piano e
pianista, fossem um só... Neste momento, o som cessou. E em meio à
multidão que se punha de pé, aplaudindo calorosamente aquela figura
clássica do meio do palco, eu despertei... Percebi que não saíra
dali... Estivera o tempo todo sentada naquela poltrona, e ali, sem ao
menos me mover, fora levada pela música, à realização do maior
desejo...
Me
pus de pé, e juntei-me à multidão. Me escapou dos lábios um
sorriso, quando pensei: "Já sei para onde virei quando a
saudade se tornar um fardo sobremodo pesado..."
Susan Oliveira