sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O evento

          Vinte horas e trinta minutos... A decoração de tirar o fôlego já pronta, reluzia aos olhos, até do menos inspirado convidado. Tudo era exuberante, feito com uma perfeição e delicadeza extraordinárias. O corredor, por onde passaram todas as testemunhas e familiares, estava coberto por uma tapeçaria fina, que parecia ter sido bordada à mão, pelo mais nobre artesão. cada coluna, de estilo grego, com seus traços rústicos, era coberta por seda fina e arranjos florais escolhidos à dedo.
          Os convidados, bem alinhados, todos à caráter, trajados de gala, após verem todas as entradas formais e informais, precisamente ensaiadas e preparadas, aguardavam o momento que é, em ocasião como esta, o mais esperado, ouso dizer.
          A música mansa que tocava lá dentro fazia os olhos daquela platéia observadora, brilharem. Enquanto ali fora, a limousine preta estaciona. O recepcionista logo abra a porta, e estendendo a mão, segura com respeito e sutileza, a mão coberta por uma luva de cetim, da tão aguardada figura da noite. Ela coloca seus pés sobre o tapete, que se estendia até a rua, e enquanto era rodeada por mãos e olhos que arrumavam véu, cauda, buquê, era dominada por um sentimento incomum...
          Ela caminha até o holl, de onde pode ouvir a mudança da música, que passara à chamá-la ao interior, todos ali dentro se levantam, ela se posiciona de frente ao corredor, aguardando que as portas, grandes e robustas se abram diante de si, instante em que os pensamentos mais variados começam a consumir sua mente.
          Portas abertas, ela se vê diante do extenso corredor... Aos lados, pessoas com olhares meigos e emocionados -ela se encontrava portando uma beleza estarrecedora- , e à frente, distante, na outra extremidade do corredor, estava quem à esperava, apaixonado, nervoso, emocionado, quase eufórico, mas contido, com um belo sorriso e uma postura exemplar.


          Ela permanece parada ali, pelo que pareceram cinco minutos aos olhos de quem a observava, mas na verdade fora menos de um, lutando contra as pernas, que pareciam recusar-se a caminhar... Vencendo-as, inicia sua caminhada até o altar... 
          Seus olhos permaneciam fixos no final do corredor, em seus lábios brotavam sorrisos que se perdiam pelos pensamentos diversos que pairavam em sua mente, de modo que não conseguia manter-se sorrindo por mais de poucos segundos. Seus passos eram doces, como sempre foram, e seu andar demonstrava calma, contradizendo seu interior em caus, atormentado pelos pensamentos. Ela chega.
          Os momentos que se seguiram não foram por ela captados, a cerimônia seguia, mas ela se encontrava tão distante, como se seu corpo habitasse aquela dimensão, mas sua mente estivesse em outra, que não presenciou nem mesmo a entrada das alianças pelas bailarinas que com graciosidade faziam o papel da dama de honra, até que o momento esperado por todos se apresenta, trazendo-a de volta à si. Era a troca das alianças, o momento do sim, a tão esperada ação, que leva dois corpos ao caminho de serem apenas um. Ela olha para ele, que com a aliança na mão, diz as palavras encantadoras que havia ensaiado com antecedência, e fazia seus votos de fidelidade e amor eternos... Então vem a pergunta, e logo em seguida a resposta: Sim!


          Era a vez dela... Ela segura a aliança, não havia música neste momento, talvez por distração do maestro, ou uma falha do solista, o silêncio reinava. Seu olhar estava fixo no dele, e em seguida caminhando por toda a platéia que sentada observava a cena... Vem a pergunta... Ela olha para a aliança que segurava em sua mão, olha para ele, e olha para o lugar, desde o altar, até a porta... Silêncio....
          Em um instante de hesito dela, o silêncio é quebrado pelo som do ouro da aliança, antes em suas mãos, caindo no mármore do altar, e imediatamente depois, o som do tecido do belo vestido que a vestia, a se movimentar com rapidez. Todos parados, estáticos. Apenas o que se movia eram os olhos de cada um ali presente, na direção dela, e ela, que corria pelo corredor em direção à porta, segurando seu longo vestido. Ninguém ali presente conseguia mover um só membro, a cena era pasmante... Pelo corredor voltava correndo, com um olhar assustado, e um respirar ofegante, quem deveria voltar acompanhada e sorrindo.


          No meio do extenso corredor ela ouve seu nome, um grito que ecoou pelo templo, então firma seus passos, e corre ainda mais, alcançando a porta, o holl, e rapidamente a rua. O mesmo carro que a trouxera, agora a recebia, fechava sua porta, e a levava de volta... À essa altura todos já estavam se movimentando em direção ao holl, na expectativa de ver a figura ilustre da cerimônia, mas só puderam ver a limousine, que já estava no final da rua, à dobrar a esquina que dava para a ponte.


          O evento que se segue à este não será por mim relatado, deixo até aqui escrito, e que cada mente se atenha a imaginar o final que lhe for cabível...


Susan Oliveira