terça-feira, 22 de maio de 2012

Existe um mundo maior

       Era domingo de manhã, mas naquele amanhecer não haviam pássaros cantando, o sol não mostrava seus pequenos raios em sinal de um lindo dia nascendo, e o orvalho não exalava cheiro algum, pois não estava presente ali...
       A persiana estava aberta, mas a paisagem que por ela se via, era tão obscura como se estivesse ainda fechada, a cortina não brilhava pela claridade exterior, e os ladrilhos do banheiro ainda estavam frios pela recusa do sol a entrar, e ali modificar o ambiente...
       Abri os olhos, e o que vi foi estarrecedor, era como estar em outra dimensão, nada parecia fazer sentido, despertei no mesmo lugar, mas era como se estivesse em outro.
       A saudade estava por mim amarrada, sufoquei-a, na ânsia de fazê-la menos cruel, mas o nó permanecia na garganta, implorando pra sair... Tentar conter os sentimentos não é sempre fácil...
       Levantei, os olhos queriam fechar-se e o corpo pedia por mais algumas horas de descanso. Neguei-lhes o desejo, e quase a me arrastar, me dirigi ao chuveiro, e liguei... A água que caía sobre mim parecia lavar os pensamentos, senti que enquanto eu estivesse ali, ficaria tudo bem. Era um modo de refúgio, ali nada podia me atingir, nada podia modificar meu estado...
       .... abrindo a porta do aposento, pude sentir o vento frio que por ela entrava... Olhei a escadaria que dá acesso ao rol da saída, e depois de um pouco exitar, tranquei a porta, caminhei até a escadaria, e desci. Cada degrau alcançado com a ponta dos pés, era um pensamento intenso em minha mente, prossegui. Chegando ao rol, abri a porta de vidro, que dava para rua, e saí...
       Sem destino certo, apenas a certeza de que precisava caminhar, me dirigi ao cais mais próximo, que fica ali mesmo, logo ao lado, no final da rua. O vento estava mais forte à beira do mar, e as ondas que quebravam, tão próximas à mim, permitiam que o vento trouxesse consigo, gotículas de água gelada.
       Dali, com os braços entrelaçados pelo friozinho que fazia, e com os cabelos voando em direção ao leste, eu podia avistar um paredão de rochas, formado naturalmente, de onde brotavam tipos variados de folhagens, e algumas árvores incomuns. O céu já não estava tão cinzento, e o sol parecia querer surgir. Alguns raios vinham e iam, brincando entre as nuvens que se movimentavam rapidamente, formando desenhos incríveis, inspiradores e provocantes ao vacilar do pensamento...
       Se eu pudesse escolher um instante daquele dia para congelar, e vivê-lo por dias a fio, certamente, seria aquele, aquele em que tudo formava um cenário digno de moldura, e trazia para dentro de mim, uma certa calma, um certo alívio... Era como se naquele momento, ali, olhando e sentindo tudo aquilo, eu entendesse que existia, paralelo à correria e preocupação diária, um mundo maior...
       Naquele dia, mais precisamente naquele momento da manhã, eu percebi que havia muito mais coisa ao meu redor, e que eu não estava sozinha, por mais que parecesse assim ser. Havia um mundo ao meu redor, acessível e intacto, pronto pra me acolher quando eu precisasse, por um instante, respirar, e elevar os olhos além do cotidiano...

       Deus permite certas coisas que parecem ser insuportáveis, mas Ele nunca deixa de dar todos os recursos necessários para que haja suporte e estrutura em nós.


Susan Oliveira

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